Construção de um rickenbacker 4003

Sem qualquer tipo de pretensão vou "tentar" construir um RK 4003, depois um 4005. vamos ver no que dá. Primeiro pesquisei sobre as madeiras possivelmente usadas para construir um instrumento como este. sempre fui apaixonado por Beatles e devo admitir o som do RK do Paul é algo sublime. Assim, resolvi construir o instrumento já que nas lojas em São Paulo um Rk4001CS está por volta de R$10.000,00, dinheiro demais pra mim...realmente não dá.

Os baixos Rickenbacker são em sua grande parte construidos em Maple, uma madeira branca de origem canadense. Então tive que dar uma pesquisada para ver que madeira nacional se assemelharia mais ao tal Maple, já que a qualidade e as configurações da madeira vão interferir no som do instrumento.

Estive um dia no atelier do Sr. Romeu da Behger em Pinheiros e vi ele fazendo um Rk com Mogno e marfim...muito lindo. Acho que depois vi anunciado no Mercado Livre, ele fez um modelo 4004. O mogno é bem bonito e utilizado para fazer alguns instrumentos renomados, entre eles os baixos Gibson e guitarras Les Paul.

Tive acesso a um estudo, se eu não me engano de um formando da Universidade Federal de Brasilia que analisou as madeiras brasileiras e fez um ótimo trabalho analisando a propagação do som e avaliando a qualidade das madeiras e a sua utilidade para cada parte do instrumento. O bom desses trabalhos é que têm "conclusão" o que faz a gente ir "direto ao ponto". Neste estudo o formando para engenheiro ambiental propõe que a madeira brasileira mais parecida com o maple é o tauari branco.

O marfim também é muito bom pra substituir o maple, mas acho ele muito pesado. Bem mais pesado que o maple. Assim acho que um baixo todo feito em marfim vai precisar que eu faça musculação pra aguentar o peso dele a noite toda.

Assim, resolvi ir atrás do tal Tauari pra ver no que dava. Os marcineiros de um modo em geral não gostam muito desta madeira. Alguns dizem que até seca a madeira dá uma "empenada". Torções na madeira é algo que realmente está fora de contexto.

O Maple tem características próprias. É uma madeira branca, mais branca que o marfim e mais branca que o tauari branco (todas de grã direita (?)).

Esses tempos encontrei uma outra madeira bem próxima ao Maple, o jequitibá rosa, de de rosa não tem nada. Pelo menos foi o que me informou a pessoa que me vender (- esse aqui é o jequitibá rosa!)

Vamos ver as fotos destas madeiras.

 

A madeira de cima é o tauari branco e a de baixo é o maple. Maple é mais rajado que o o tauari que em certos ponto fica bem legal.

 Um "close" no Maple.

Um close no Tauari Branco. veja que é bem mais "acastanhado" em relação ao Maple.

 Aqui temos uma peça de marfim e uma de maple. Embora o marfim seja mais claro que o tauari, ainda não possui o tom do maple que é bem clarinha mesmo.

 As "veias" do marfim são muito lindas e dão um toque especial no instrumento que fica até com personalidade própria.

 Taí o que eu disse. A madeira da esquerda é o Jequitibá-Rosa e o da direita ´(riscado) é o Maple. realmente são peças muito parecidas. O Jequitibá é um pouco mais mole que o Maple, mas somente lidando com essas duas madeiras é que vai dar para ter uma idéia.

 Olha como são parecidas. Gostei muito desse Jequitibá

 Resolvi fazer moldes para o corpo do baixo. Essa é a "parte de baixo". O rickenbacker é feito de três partes: o braço é inteiriço vai do começo ao fim do instrumento.

Já tenho algumas partes, tais como escudo, coverplate do captador da ponte, os knobs....

Estou pensando seriamente em começar a construir o baixo com o Jequitibá Rosa para ver no que dá, depois, se bobear faço com o maple.

Mãos a obra...

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Depois de cortadas as peças é ora de dar um "shape" no braço. A peça de Maple é uma só da ponta do Headstock até o fim do corpo. Fiz um "C" shape do jeito que eu gosto com 2.1cm de raio no braço. Ficou muito confortável. Vamos as colagens.

Para dar uma colagem sem as peças laterais ficar tortas, é sempre bom prender o grampo com umas peças de madeira fazendo o contraponto. Assim você não vai ter a ingrata surpresa de ter colado as peças tortas, o que poderia te dar uma baita dor de cabeça.







Usei duas peças de imbuia para dar o acabamento no Hadstock. Na verdade os Ricks originais vem com esse retalho no Headstock que, ao que parece, é usado uma bubinga, madeira africana que lembra bem o nosso jatobá, ou rosewood. Usei essa imbuia porque acho uma madeira leve e bem bonita . Tive um Rk 4001 1972 e não tinha esse detalhe. Não sei bem desde quando começaram a utilizar esse acabamento, e nem dá pra saber se tem alguma utilidade nisso. Usar maple, bubinga ou outra madeira qualquer ao meu ver não faz a menor diferença nesse ponto do corpo.

 Na escala eu usei uma peça de jatobá. Essa madeira é muito dura e bem lega pra trabalhar. Dá um acabamento muito bacana e se parece muito com o jacarandá africano. Alguns modelos de RK, os 4004 por exemplo lembram a bubinga na escala (fingerboard) que é uma madeira bem legal, avermelhada, gosto muito desse tipo. Como neste modelo pretendo fazer um mix entre os RK C64 e os 4001 clássicos, a marcação fiz de bolinhas mesmo ou "dots".

 Taí o resultado. colado e pronto para ser "escavado". Os moldes já são feitos com as medidas dos buracos dos captadores, então é desenhar e com uma furadeiras dar umas picotadas para auxiliar a tupia, daí é só começar a fazer o trabalho.

Esta foto da pra ver como o jatobá tem um tom muito bonito, ele é cheio de veias e dá um tom acetinado que chama muito a atenção. 

Aqui uma foto da madeira já escavada com os buracos do captador da ponte e do braço. É muito difícil encontrar no mercado nacional algo que se pareça com a captação dos Rickenbackers, assim vou ter que, pelo menos no caso do captador do braço, ter que morrer com uma notinha e colocar um original mesmo. 
Estive fazendo uns teste com um captador, um não, meio, captador de um OLP antigo que eu tinha, e o timbre é muito bom, quem sabe não faço umas inovações.

Liguei para o meu amigo Adriano e ele logo se prontificou a embelezar o baixo, e depois de muito pensar resolvi escolher uma cor que sempre tive vontade de ver em algum instrumento, o Autumglo. è um marrom com cara de envelhecido. Assim propus ao Adriano este desafio, que aceitou certamente. O baixo ficou assim logo de cara. Ví que ia ficar bem legal.

Neste ponto dá pra ver que as escalas dos Rickenbacker são envernizadas e isso acaba dando um aspecto mais brilhante para a escala. Eu gosto deste tipo de trabalho. Acho que o maior problema é limpar os trastes que ficam cheios de resina do verniz, mas isto é um trabalho para o Adriano, que vai resolver com certeza.

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F I N A L M E N T E

 

Achei o resultado muito bom. Principalmente no diz respeito ao timbre desse capatador. Como eu disse, tive que mandar vim um cap original mesmo. O "ronco" desse captador é matador, e os médios brilhantes do captador do OLP ficou absurdamente fantástico. Usei quatro potenciômetros Alpha de 300k, com dois capacitores de 0.047. O "punch" ficou animal.

 E escala ficou super confortável, sem qualquer coma de diferença na afinação.

 Acho que esse maple ainda vai ficar um pouco mais escuro.

 Um detalhe do headstock.

Não é linda a escala de jatobá? O braço deve ter ficado com us 2,1 ou 2,2mm de espessura. Mega confortável.

Valeu.